Na lancheira
- Victor Tarini
- 17 de jul. de 2022
- 2 min de leitura
Todo dia é a mesma coisa! Acordar as crianças, aprontá-las para a escola, dar café e o momento mais dramático! Montar a lancheira! Pode parecer fácil para mim, afinal de contas eu sou nutricionista. Tenho duas filhas em idade escolar e minha esposa é coordenadora pedagógica numa escola, portanto devo conhecer bem a situação.
É muito comum que pensem “Ah... ele é nutricionista, na casa dele deve ser tudo certinho, lanchinho equilibrado com legumes crús, ovinho de codorna e leitinho desnatado, de fazer raiva...”. Pode parecer um cenário perfeito, porém não é assim que acontece.

As crianças pedem por bolinhos, doces, biscoitos recheados, suquinhos de caixinha, sem falar no dinheiro para comprar um “quitute” extra na cantina da escola.
Em casa tem que ter uma “negociação”, permitir uma ou outra guloseima, porém sem renunciar à presença do alimento adequado. Não dá para impor um lanche exclusivamente saudável. É só pensar, “quando eu era criança, o que eu comia no lanche da escola?”. Além do mais, quem disse que a criança vai comer “sozinha”? “Ai vem o coleguinha e abre a lancheira exibindo um reluzente pacote de bolacha Óreo. Pronto! Lá vamos nós explicar por que o amiguinho pode e nosso filho não...
Transtornos alimentares estão diretamente ligados a falta de “equilíbrio” na relação “desejo/consumo”. Enquanto a expressão: “nunca poderei consumir” assusta, o “sempre poderei consumir” banaliza e torna comum algo que poderia ser especial ao ser consumido.

O problema é quando a criança come guloseimas o dia todo e nas principais refeições não tem fome e não quer comer nada. Soma-se a isto o fato de que as crianças estão gastando muito pouca energia com atividades físicas. Os eletrônicos ocupam praticamente todo o tempo livre.
O lanche da escola representa uma das refeições que a criança/adolescente deverá fazer ao longo do dia. Não é ela a única responsável pelo ganho de peso e potenciais problemas de saúde, mas sim a soma das guloseimas consumidas ao longo do dia.
Minha sugestão é que a criança tenha sempre em sua lancheira uma fruta, um pequeno sanduiche com queijo e água. Procure não ser repetitivo, variando tanto na fruta quanto no sanduiche (bisnaguinha, torrada, pão de forma, etc.).
Vale lembrar que aquilo que buscamos colocar em prática em nosso dia a dia como tentar comer melhor, menos ultra processados, menos calóricos, menos doces, menos fritos, etc, precisa ser posto em prática também com nossos filhos.
Pode parecer que é muito cedo para se preocupar com nossas crianças sobre problemas de saúde como hipertensão, diabetes, dislipidemias (aumentos das gorduras no sangue), mas posso assegurar que não é. Os registros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que uma em cada três crianças, com idade entre cinco e nove anos, está acima do peso no País. As notificações do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, de 2019, revelam que 16,33% das crianças brasileiras entre cinco e dez anos estão com sobrepeso, 9,38% com obesidade, e 5,22% com obesidade grave. Em relação aos adolescentes, 18% apresentam sobrepeso, 9,53% são obesos e 3,98% têm obesidade grave.
Então, vamos começar a olhar mais de perto o que nossas crianças estão comendo?
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