Café com Açúcar

E então ela disse:” Café para mim, só com açúcar! Imagina tomar café amargo, nem para curar a bebedeira! O café e o açúcar fazem um par perfeito!” Arrematou. De fato, sou obrigado a concordar em parte com o que uma paciente me disse. Não é fácil tomar café sem açúcar. Requer muita determinação, força de vontade e acima de tudo uma opinião sólida sobre o açúcar e seus efeitos sobre a saúde. Mas, antes de sair combatendo o uso do açúcar, deixe-me explicar por que o açúcar faz tanta diferença ao se tomar café. Já faz mais de seis anos que não consumo açúcar diretamente (digo diretamente quando uso o açúcar ou como alguma coisa adoçada como bolos, sorvetes, doces de padaria ou confeitaria). Desde então, tenho sido criterioso sobre o tipo de café que vou tomar. Você sabia que o café possui classificação? Até bem pouco tempo eu também não sabia. Aliás, eu me achava um fraco por sofrer tanto ao tomar café sem açúcar e quase passar mal de arrependimento por colocar algo tão “ruim goela abaixo”.

TEM CAFÉ QUE É RUIM MESMO...

Vamos à classificação: cafés denominados extraforte, tradicional e forte (não importa a marca), são basicamente cafés moídos com uma quantidade de impurezas (folhas, galhos etc.) muito maior e, por conta disso, a torra do café precisa ser sob temperatura elevada. Tal processo literalmente queima o café, tornando-o muito amargo ao paladar, ou seja, estes tipos de cafés precisam ser adoçados para serem consumidos! Sem dúvida que também são mais baratos, mas, basta comparar a coloração do pó desses cafés com pós de cafés superiores para ver a diferença. Quando comecei a prestar atenção nisso, pude constatar que é verdade! Experimente tomar um café expresso numa cafeteria. “Não adoce”! você verá que não é nem de perto tão amargo quanto aquele café que você coou em casa. Usar o açúcar para adoçar qualquer coisa é um hábito muito ruim. Tanto, que não nos damos conta de quão dependentes podemos ficar desse alimento.

GERENTE DE CONCESSIONÁRIA

Certa vez, estava atendendo a um paciente que havia me procurado com o objetivo de emagrecer. Seus exames estavam bastante alterados e, apesar da estatura elevada (que disfarçava o sobrepeso) era nítido que a obesidade estava avançando a passos largos. “Doutor, eu preciso emagrecer! Sou gerente numa concessionária de veículos, minha imagem é muito importante. Minhas roupas não me servem mais, minha esposa se queixa frequentemente que eu “ronco” a noite inteira, eu acordo cansado como se tivesse trabalhado pesado madrugada a fora...” Partimos então para a avaliação nutricional, inquérito alimentar, elaboração de dieta, plano de exercícios físicos alinhados à dieta e “mãos a obra”! Trinta dias depois, o paciente retornou para a reavaliação.

MAS, NÃO ERA PARA EMAGRECER DOUTOR?

Conforme o combinado, ele não se pesou durante o período, seguiu rigorosamente todas as orientações a cerca da dieta, horários, exercícios, enfim. Qual foi a nossa surpresa, não bastasse não ter perdido nenhum quilinho, o paciente ainda ganhou cerca de “meio quilo”!!! Foi constrangedor. Ao analisar o exame de bioimpedância percebemos uma mudança de composição corporal. Houve perda de gordura, porém de apenas um quilo. Não deu para disfarçar a decepção. Meu paciente já me olhava com desconfiança. Então, começamos a conversar sobre toda a nova rotina, ele me garantiu que aderiu totalmente ao programa, que se esforçou muito no início, mas que foi se acostumando à medida que as semanas passaram. Mas afinal, onde estava o erro?

O ESTALO

Foi aí que me deu um estalo na mente! Perguntei:” você toma muito café? Ele respondeu: “Acho que sim! Toda vez que senta um cliente na minha frente, eu o convido para tomar um café. Tem um quiosque no centro da concessionária e a cada negócio em vias de concretizar tomo um café com um cliente”. “Isso se repete muito ao longo do dia?” perguntei. A resposta foi surpreendente, “cerca de VINTE VEZES”! Ok. Agora o arremate final, “Você adoça o café?” “Claro doutor! Quem toma café sem açúcar vinte vezes num dia! Aí perguntei: “Quantas colheres de açúcar você usa por vez? (Só para ilustrar, uma colher de chá de açúcar pesa cerca de 10 gramas)” A resposta foi: “Duas colheres doutor, com direito a raspar o fundinho da xícara!”

1600 CALORIAS

Quase cai de costas! Vinte gramas de açúcar vezes vinte cafezinhos... 400 gramas de açúcar por dia! Ou, 1600 kcal a mais, todo dia! Identificamos o problema, retomamos nossa estratégia de emagrecimento, retiramos o excesso de café e ainda substituímos o açúcar por adoçante (ainda que por tempo limitado. Afinal, adoçante também faz mal).

Para resumir, um mês depois o paciente comemorou a perda dos primeiros seis quilos, passou a dormir melhor e parou de brigar com o guarda-roupas. Ufa! Bendito açúcar, não fosse ele, como eu explicaria o ganho de peso do paciente?

E você, já parou com o açúcar?